Página:Historia da literatura brasileira (Verissimo, 1916).pdf/225

Wikisource, a biblioteca livre

Era ainda o momento em que um falso critério sociológico e um desvairado sentimentalismo queriam fazer do índio um elemento demasiado interessante da nossa nacionalidade. Portanto, lisonjeava o sentimento público, e lhe aproveitava da simpatia. A Confederação dos Tamoios não criou na nossa literatura o que se viria chamar «indianismo», e que se não foi todo o nosso Romantismo, foi a sua feição mais peculiar. Mas, com a autoridade literária de que então gozava o seu autor, trouxe à iniciativa de Gonçalves Dias uma cooperação apenas inferior à ação deste, se é que no momento não foi havida por superior. Em 1859, três anos depois da Confederação, apresentava Magalhães ao Instituto histórico uma extensa memória sobre Os indígenas do Brasil perante a história, que poderia ser como o comentário perpétuo de seu poema. O fim declarado desse trabalho é reabilitar o elemento indígena. Não era outro o íntimo pensamento do indianismo.

Magalhães foi principalmente e sobretudo poeta. Por sua obra de poeta influiu poderosamente na implantação do Romantismo aqui, e, portanto, na fundação da literatura que desde então se começa a distinguir da portuguesa. Mas escreveu também prosa, ensaios diversos e tratados filosóficos. Como prosador é seguramente, não obstante alguns defeitos nativos (como o já ridiculamente famoso da colocação dos pronomes), um dos mais vernáculos, pela propriedade do vocabulário, sempre nele castiço, e de parte os legítimos sacrifícios ao seu falar brasileiro, pela correção sintática do fraseado. É mais simples, mais natural, menos rebuscado ou trabalhado o seu estilo do que era o dos escritores que aqui o precederam, e ainda da maior parte dos que se lhe seguiram. Sob o aspecto da linguagem e estilo são escritos estimáveis, e que se deixam ainda ler sem dificuldade, antes com aprazimento, os seus opúsculos