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foi, viagem, crítica literária e de arte, biografias, pronunciando como orador do Instituto Histórico vários discursos, que são talvez a sua obra mais notável em prosa. Na Revista dessa associação publicou a sua conhecida Memória sobre a antiga escola de pintura fluminense e artigos de iconografia brasileira. Como a quantos do mesmo gênero escreveu, os inspirava mais a intenção patriótica de exalçar além do legítimo cousas da pátria que discreto senso crítico. Mas era moda louvar descomedidamente, engrandecer sobre posse, tudo o que era nosso, na ingênua esperança de nos valorizarmos. A índole de si mesma entusiasta e pomposa de Porto Alegre cedeu gostosamente à moda.

A obra de prosador de Porto Alegre é menos considerável que a de Magalhães, e não foi, como a deste, jamais reunida em livro. Menos vernáculo como prosador que o seu êmulo, o é muito mais como poeta, no Colombo. Mas sobretudo lhe é superior pela abundância e vigor das idéias, movimento e colorido do estilo, e brilho da forma. Neste, como é muito nosso, freqüentemente excede-se e cai no empolado e no retórico. Magalhães escreve mais natural e simplesmente, sem aliás evitar sempre os extremos, o banal e o inchado. Esta marca do verdadeiro escritor, ter idéias gerais, Porto Alegre é um dos primeiros dos nossos em que se nos depara.

É extraordinariamente raro que ainda um homem de grande engenho, como sem dúvida era Porto Alegre, resista às influências e se forre aos preconceitos do seu ambiente espiritual. Em plena pujança das suas faculdades literárias, aos cinqüenta anos e em mais de metade do século que rompera com a tradição clássica das grandes epopéias, compôs e publicou um poema de um prólogo e quarenta cantos com mais de vinte e quatro mil versos, Colombo.

Por mais difícil que se nos antolhe a leitura deste extensíssimo