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seus primeiros estudos quando se viu obrigado, pela precária situação econômica da família, a abandoná-los e adotar uma profissão mecânica, a de carpinteiro. Por alguns anos exerceu este ofício no Rio de Janeiro, para onde viera de Itaboraí com o fim de nele aperfeiçoar-se. Cinco anos depois regressou à terra natal. Tinham-lhe morrido os quatro irmãos mais velhos. Aos vinte anos achou-se só no mundo, com escassíssimos bens que lhe herdara o pai. Senhor de si, voltou aos estudos com o mesmo antigo ardor e o mesmo mestre, o cirurgião Inácio Cardoso da Silva, professor régio em Cabo Frio, e também poeta, cujos versos Teixeira e Sousa mais tarde piedosamente reuniu e publicou. Em 1840 voltou ao Rio de Janeiro, onde a simpatia de cor, de engenho poético e de amor às letras facilmente o ligou a Paula Brito.

Francisco Paula Brito (1809-1861) é, na sua situação secundária, uma das figuras mais curiosas e mais simpáticas dessa época literária. Nascido no Rio de Janeiro, de gente de cor e humilde, chegou-lhe a puberdade e juventude em pleno movimento da Independência e estabelecimento da monarquia, e dessa época conservou o ardor patriótico e o desvanecido nacionalismo que a assinalou. De quase nenhumas letras, mas inteligente e curioso, despertou-se-lhe o gosto por aquelas e pelos seus cultores no trato de umas e outros, no exercício do seu ofício de tipógrafo. Mais tarde montou uma imprensa de conta própria, à qual anexou uma loja de livros. Como fosse muito caroável de literatos, a quem com periódicos que fundou, como a Marmota (1849-1861), oferecia a satisfação de se verem publicados e louvados, a sua loja, no antigo Largo do Rossio, tornou-se o prazo dado da mocidade literária do tempo, e, como era igualmente patriota ardente e chefe político de bairro, freqüentavam-no também homens públicos notáveis, doutores e outros letrados. Por ser a sua loja um centro de notícias, palestras e novidades da vida urbana que não seriam sempre de extrema veracidade e antes facilmente mentirosas, deu-lhe o povo a alcunha de «A Petalógica».