Página:Historia da literatura brasileira (Verissimo, 1916).pdf/239

Wikisource, a biblioteca livre

O exemplo seria demais belíssimo se outro fosse o valor da sua volumosa obra. Desta apenas lhe sobrevive ainda, antes por ser a única no gênero que pelo merecimento que possa ter, a História da fundação do império brasileiro (Paris, 1864-1868), aliás cheia de inexatidões e falhas, como todas as suas obras históricas.

Se Teixeira e Sousa foi o criador do romance que nos habituamos a chamar de brasileiro, isto é, o que representa a nossa vida comum e descreve os nossos costumes, paisagens, tipos, foi entretanto Pereira da Silva quem, precedendo-o, criou o romance de ficção histórica, então em voga com Walter Scott e seus primeiros discípulos. Ufanava-se com motivo no prefácio da primeira edição do seu Jerônimo Corte Real, «crônica do século XVI», de que este era um dos primeiros da literatura portuguesa moderna, pois que viu a luz do dia nos anos de 1839. Realmente só o precedeu em Portugal o Arco de Sant'Ana, de Garrett, que é de 1833. Em 1839 publicou Pereira da Silva o romance histórico O aniversário de D. Miguel em 1825, mas é apenas uma novela de trinta e três páginas, como é apenas uma novela de poucas mais páginas Religião, amor e pátria, saída no mesmo ano. Jerônimo Corte Real também teve a sua primeira publicação no Jornal do Comércio em forma de curta novela, que o autor ampliou em romance, alongando-o aliás com desenvolvimento impertinente, quando a deu em livro de 240 páginas, em 1865. Do mesmo gênero de Jerônimo Corte Real é Manoel de Morais, «crônica do século XVII». Sabendo-se como ele fazia história, avalia-se como faz o romance histórico. Os seus realmente não têm valia alguma como quadro das épocas que presumem pintar, nem qualidades de imaginação ou expressão que lhes atenuem esse defeito. Esta aliás é talvez melhor nestes seus dous romances que no resto dos seus livros, e, em todo caso, é superior à dos de Teixeira e Sousa.

É Pereira da Silva um dos criadores da nossa história literária. Precedeu mesmo Varnhagen nesses estudos, mas