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mais trabalhada, aquela em que o autor deu mais de si, em que é mais evidente o seu esforço de fazer uma grande obra de teatro. Infelizmente assentou-a numa concepção do jesuíta, se não falsa, contrária ao conceito comum desse tipo, e faltou-lhe engenho para vencer a nossa prevenção. Há no entretanto no seu drama, mais talvez que em nenhuma outra das suas peças, qualidades estimáveis e ainda relevantes de simplicidade de meios, de expressão e de emoção. Afora as suas práticas sistemáticas no escrever a língua, tem a sua, nesta, qualidades que lhes suprem e escondem os defeitos neste particular. O drama é bem feito, se bem a sua inspiração paradoxal -um jesuíta precursor da Independência do Brasil- pareça de todo falsa. Ou ao autor faltou com que dar-lhe a verossimilhança que a ficção dramática exige.

José de Alencar foi ainda crítico, publicista, orador parlamentar e jurisconsulto. Da sua atividade como crítico, principalmente exercida em breves artigos de jornais, só ficaram em livro as Cartas sobre a Confederação dos Tamoios (1856), mera censura impressionista, freqüentemente desarrazoada, de inspiração demasiado pessoal, dos defeitos do poema de Gonçalves de Magalhães. É como publicista principalmente que Alencar se assinalou fora do romance, e que mostrou, além de vigor dialético, brilho e elegância de forma não comum no gênero até ele. Estreou nele com as desde logo célebres Cartas de Erasmo, dirigidas anonimamente ao imperador, cuja primeira edição é de 1865. Outras com a mesma epígrafe, o mesmo endereço, ou também escritas a outros destinatários, como o povo e alguns próceres da política, saíram ainda em 1866 e 68. Da primeira série houve segunda edição, de Paris, no mesmo ano, e terceira do Rio de Janeiro, em 1866, o que indica a atenção e interesse que despertaram. Além de opúsculos de caráter político ou de discussão de teses constitucionais, deixou um livro, O sistema representativo, sobre este assunto. Para orador não tinha figura, nem voz, nem porte, mas compensava com grande vantagem estas falhas, pelas