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o escolher senador na lista sêxtupla em que tinha o primeiro lugar, recusa inspirada num alto sentimento de moral pública, pois Alencar era ministro na ocasião do pleito, com a sua desavença com os seus correligionários, coincidia a guerra já aludida que ao literato fizeram Franklin Távora e José de Castilho e outros, seguindo-se-lhe os primeiros ataques da crítica (Joaquim Nabuco, Sílvio Romero), aos quais se mostrou mais que de razão sensível. E ele que em opúsculos políticos, nomeadamente nas Cartas de Erasmo, a sua principal obra de publicista, se mostrava um devotado imperialista e havia feito, com a apologia do imperador, a defesa do poder pessoal, que lhe argüiam, e até preconizado o uso deste poder, agora, por uma reviravolta vulgar nos nossos temperamentos de impulsivos, atribuindo ao monarca todos os seus dissabores, encheu-se de ódio contra ele, desdisse-se e contradisse-se, em demasia entregue a este abalo moral. Como quer que seja o melhor da sua obra literária, é justamente a anterior a este período, o Guarani, as Minas de prata, as novelas de 1860, Lucíola, Diva, Iracema. Há nas que vêm após aquela crise um gosto malsão do extravagante, mesmo do monstruoso, uma afetação do desengano e de desilusão, que lhe revê a chaga da alma malferida. O Gaúcho, Til, a Pata da gazela e ainda o Tronco do ipê são disso documento. E voltando ao romance histórico, de que dera em Minas de prata o nosso mais perfeito exemplar, descai na sátira propositada e, o que é pior, feita sem talento nem finura. A Guerra dos mascates (1871), onde, com o imperador, quase sem disfarce encarnado no governador de Pernambuco, figuram alguns magnates da política grossamente caracterizados e outros contemporâneos de algum destaque, é antes um panfleto que um romance histórico. E como obra d'arte é a todos os respeitos inferior, sem que a execução lhe desculpe a má sortida inspiração.

A obra propriamente literária de Alencar, romance e teatro, fundamento do seu renome, é, a despeito das restrições que se lhe possam fazer, valiosa. Mas só as suas