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em 1827. Era filho de Joaquim da Silva Guimarães, um desses muitíssimos poetas merecidamente esquecidos de que o Brasil é abundante. Além de versejar, o pai escrevia prosa; era pequeno jornalista provinciano. Bernardo Guimarães encontrou, pois, uma tradição literária na família. Devia-lhe avultar a herança e comunhão da Sociedade Acadêmica de S. Paulo, cuja Faculdade de Direito, no tempo em que a freqüentou, era um foco de atividade intelectual. Ali teve por colegas e companheiros Álvares de Azevedo, Aureliano Lessa e outros jovens poetas e escritores. Segundo a tradição constante, ele, como aliás tantíssimos outros dos nossos doutores, tudo fez menos estudar. Depois de formado, foi sucessivamente magistrado em Goiás, professor de Retórica e Filosofia na sua terra e jornalista no Rio de Janeiro. Fixando-se mais tarde na sua Província, aí exerceu quase toda a sua atividade literária, que não foi pequena. Como prosador, Bernardo Guimarães começou, ao que parece, pela crítica, feita em jornais em que escrevia no Rio. Não sabemos o que vale a sua crítica. Como ele não perseverou nela e não deixasse como crítico obra por que o avaliemos, pouco nos importa sabê-lo, rebuscando jornais velhos.

Muito mais que Alencar e acaso mais até que Macedo, Bernardo Guimarães, como romancista é um espontâneo, sem alguma prevenção literária, propósito estético ou filiação consciente a nenhuma escola. É um contador de histórias no sentido popular da expressão, sem a ingenuidade, às vezes excelente, destes, porque em suma é um letrado, e as suas letras lhe viciam a naturalidade. Se o seu primeiro romance, O ermitão do Muquem, é um «romance brasileiro», segundo a classificação costumeira, com grandes