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E dos dois únicos exemplares originais que se lhe conhecem, o único existente no Brasil, na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, veio de Portugal (onde está o outro na Biblioteca Nacional de Lisboa) na coleção de livro do citado Barbosa Machado.

O apreço da terra, mesmo uma exagerada admiração dela, da sua natureza, das suas riquezas e bens, é uma impressão comum nos primeiros que do Brasil escreveram, estranhos e indígenas. Como veremos, será essa impressão que, fazendo-se emoção e estímulo de inspiração, imprimir à nossa literatura o primeiro traço da sua futura diferenciação da portuguesa. Não é desapropositado notar que a primeira manifestação do gênio literário brasileiro é um poema relativo a cousas da terra embora ainda sem emoção que lhe dê maior relevo e significação.

Antes, porém, de Bento Teixeira e de versejadores de igual jaez, que porventura houve, ou simultaneamente com aquele, versejaram também padres jesuítas compondo cantigas devotas para os seus catecúmenos. Esta primitiva literatura jesuítica se não limitava, entretanto, a tais cantigas. Desde que esses padres aqui se estabeleceram, por meado do século XVI, compreendia discursos em prosa e verso, epigramas ou poemas conceituosos alusivos aos motivos das festividades, diálogos em verso ou prosa ou misturados de ambos e cenas dialogadas representadas em tablados ou ramadas à guisa dos autos no Reino, infalivelmente sobre um assunto de devoção e edi-ficação. Comumente misturavam-se neste autos o latim e o português e também o castelhano. Serviam-lhe de atores ou recitadores os índios amansados e menos broncos, algum discípulo europeu dos jesuítas e até um destes padres. Das festividades em que tinham lugar estas manifestações literárias —