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nas sessenta e tantas igrejas da cidade e seus subúrbios.

Afora as festas de igreja, em cuja freqüência e esplendor emulariam as diversas religiões, missas solenes, procissões, ladainhas, novenas, vias-sacras e outras da bela e rica liturgia católica, espetáculos diletos da gente ibérica, tinha os moradores da Bahia para diverti-los touros, não menos dela prezados, as cavalhadas, as festividades por motivos de júbilos nacionais da metrópole, representações teatrais dos colégios dos jesuítas ou acompanhando essas festividades, os abadessados, obrigados aos tradicionais outeiros poéticos da península. Na cidade e nos seus arredores era comum fazerem-se comédias. A essas representações consagrou Gregório de Matos mais de um dos seus poemas.45 A escravatura africana muito numerosa, com a facilidade e despejo de costumes produzidos pela escravidão, a soltura da vida colonial devia dar a esses divertimentos, a que cumpre juntar os batuques, candomblés, cateretês e outras importações d’África, já aqui mestiçadas com quejandas de Portugal e do país, um singular pico de talvez maior licença que a da sociedade portuguesa da época.

Os moradores mais abonados mandavam os filhos estudar a Coimbra, depois de os haverem feito cursar as aulas preparatórias locais, mormente as dos jesuítas, que eram as mais recomendadas e freqüentadas. Além das matérias de religião e teologia, estudavam-se nessas aulas o latim e sua literatura e conjuntamente a história e geografia antigas e a mitologia. Nelas explicou e comentou Sêneca, está-se a ver com que abuso de sutilezas e desmancho de trocadilhos, o padre Antônio Vieira. Os jesuítas mantinham em seu colégio uma livraria, ou biblioteca como hoje chamamos, em que certamente com livros de religião e teologia se achariam os poetas antigos e os portugueses e espanhóis de mais nomeada e estimação. Por citações de Botelho de