e ao juiso a Historia do Futuro, quanto é estranho ao papel o assumpto e nome della.
Mas porque não cuide alguma curiosidade critica, que o nome do futuro não concorda, nem se ajusta bem com o titulo de historia, saiba que nos pareceu chamar assim a esta nossa escriptura, porque sendo novo e inaudito o argumento della, tambem lhe era devido nome novo e não ouvido.
Escreveu Moysés a historia do principio e creação do mundo, ignorada até aquelle tempo de quasi todos os homens: e com que espirito a escreveu ? Respondem todos os padres e doutores que com espirito de prophecia[1]. Se já no mundo houve um propheta do passado, porque não haverá um historiador do futuro? Os prophetas não chamaram historia às suas prophecias, porque não guardam nellas estylo, nem leis de historias: não distinguem os tempos, não assignalam os logares, não individuam as pessoas, não seguem a ordem dos casos e dos successos, e quando tudo isto viram e tudo disseram, é involto em metaphoras, disfarçado em figuras, escurecido com enigmas, e contado ou cantado em phrases proprias do espirito e estylo prophetico, mais acommodadas á magestade e admiração dos mysterios, que à noticia e intelligencia delles.
Do propheta Isaias, que fallou com maior ordem e maior clareza, disseram S. Jeronymo e Santo Agostinho, que mais escrevêra historia que prophecia[2]. A sua prophecia é o evangelho fechado; o evangelho é a sua prophecia aberta. E porque nós em tudo o que escrevemos, determinamos observar religiosa e pontualmente todas as leis da historia, seguindo em estylo claro, e que todos possam perceber, a ordem e successão das coisas, não núa e secamente, senão vestidas e acompanhadas das suas circumstancias; e porque havemos de distinguir tempos e annos, signalar provincias e cidades, nomear nações, e ainda pessoas, (quando o soffrer a materia) por isso, sem ambição, nem injuria