coração, como se o sentisse atravessado por uma facada, abafou um grito, e ficou por um momento hirta, pálida, imóvel. Depois levou a mão ao seio e apalpou a faca, mas hesitou e abanando a cabeça:
– Não! não! – murmurou; – ainda não!.. mais tarde.
E deitou a correr para casa. Lá foi dar desabafo à violência da dor e da raiva que a torturavam, e os mais atrozes planos de vingança lhe tumultuavam no espírito. Ter-lhe-ia sido fácil matá-los a ambos, mas isso não a satisfazia. Queria fazer Carlito sofrer muito e por muito tempo dores horrorosas do corpo e da alma, insultá-lo, esbofeteá-lo, cuspir-lhe no rosto, antes que morresse, e depois apunhalar-se sobre o seu cadáver. Entregue a um turbilhão de idéias, que se atropelavam em seu espírito, indecisa, arquejante, louca, ora percorria a casa a passos precipitados, ora se debruçava sobre o leito arrancando soluços convulsos e chorando lágrimas de sangue.
Nesta terrível agitação a veio achar Quirino, que entrava pela porta adentro. Ao vê-la com as feições transtornadas, os olhos macerados e injetados de sangue, os seios ofegantes, o olhar torvo e desvairado, Quirino recuou de espanto.
– Meu Deus! – exclamou ele, – o que lhe terá acontecido, que a vejo tão alterada!