tomou na praia uma grande e pesada pedra, e a colocou dentro da canoa.
– Para que essa pedra? – perguntou Carlito.
– Esta canoinha é muito doida, Carlito; esta pedra é para fazê-la calar mais um pouco na água, e não virar com agente.
Soltaram a canoa e a tangeram rio abaixo pelo remanso de que falamos. Carlito preparou o seu anzol e o lançou na água. Estava em pé no meio da canoa, com a vara em punho e os olhos fitos no rio. Por detrás dele Quirino assentado à popa manejava o remo. Quem os visse então, havia de notar o extremo antagonismo que havia na expressão daquelas duas fisionomias. Carlito com olhar tranqüilo, que revelava a placidez de sua alma tão serena como a torrente mansa sobre que resvalava, tinha a atenção presa aos movimentos da linha de seu anzol, e um meio sorriso como de uma satisfação íntima lhe pairava pelos lábios. Quirino com os olhos torvos e espantados olhava com inquietação ora para uma ora para outra margem; ora apalpava a faca e fitava olhar sinistro e desvairado sobre o adolescente que estava diante dele, ora deixava por instantes cair a fronte sobre o peito em profundo e sombrio abatimento. Seu espírito debatia-se entre os estertores da mais violenta e angustiosa luta.