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Página:Historias da meia noite.djvu/126

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Um amigo a quem Ernesto confiava todas as suas alegrias e mágoas, a quem tomava por conselheiro e que era seu companheiro de casa, muitas vezes lhe dizia:

— Olha, Ernesto, eu creio que estás perdendo o teu trabalho.

— Como assim?

— Ela não gosta de ti.

— Impossível!

— Tu és apenas um passatempo.

— Enganas-te; ama-me.

— Mas ama também a outros muitos.

— Jorge!

— Em suma...

— Nem mais uma palavra!

— É uma namoradeira, concluía o amigo tranqüilamente.

Ouvindo este peremptório juízo do amigo, Ernesto despedia um olhar longo e profundo, capaz de paralisar todos os movimentos conhecidos da mecânica; como porém o rosto do amigo não revelasse a menor impressão de temor ou arrependimento, Ernesto recolhia o olhar — mais cordato neste ponto que o senador D. Manuel, a quem o visconde de Jequitinhonha dizia um dia no Senado que recolhesse um riso, e continuava a rir — e tudo acabava em boa e santa paz.

Tal era a confiança de Ernesto na flor da Rua do Conde. Se ela lhe dissesse um dia que tinha na algibeira do