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Página:Historias da meia noite.djvu/14

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historias da meia noite

amores faceis e paixões de uma hora, veiu a enamorar-se repentinamente de uma linda princeza russa. Não se assustem; a princeza russa de quem fallo, affirmavam algumas pessoas que era filha da rua do Bac e trabalhára n’uma casa de modas, até á revolução de 1848. No meio da revolução apaixonou-se por ella um major polaco, que a levou para Varsovia, d’onde acabava de chegar transformada em princeza, com um nome acabado em ine ou em off, não sei bem. Vivia mysteriosamente, zombando de todos os seus adoradores, excepto de Camillo, dizia ela, por quem sentia que era capaz de aposentar as suas roupas de viuva. Tão depressa, porêm, soltava éstas expressões irreflectidas, como logo protestava com os olhos no ceu:

— Oh! não! nunca, meu caro Alexis, nunca deshonrarei a tua memoria unindo-me a outro.

Isto eram punhaes que dilaceravam o coração de Camillo. O joven médico jurava por todos os santos do calendario latino e grego que nunca amára a ninguem como á formosa princeza. A barbara senhora parecia ás vezes disposta a crer nos protestos de Camillo; outras vezes porêm abanava a cabeça e pedia perdão á sombra do venerando principe Alexis. N’este meio tempo chegou uma carta decisiva do commendador. O velho goyano intimava pela ultima vez ao filho que voltasse, sob pena de lhe suspender todos os recursos e trancar-lhe a porta.