Um mês depois daquele fatal desastre, estando Ernesto em casa a conversar com o companheiro e mais dois amigos, um dos quais era o rapaz de nariz comprido, ouviu bater palmas. Foi à escada; era o moleque da Rua Nova do Conde.
— Que me queres? disse ele com ar severo, suspeitando que o moleque viesse pedir-lhe dinheiro.
— Venho trazer isto, disse o moleque baixinho.
E tirou do bolso uma carta que entregou a Ernesto.
A primeira idéia de Ernesto foi recusar a carta e pôr o moleque a pontapés pela escada abaixo; mas o coração disse-lhe uma coisa, como ele mesmo confessou. Estendeu a mão, recebeu a carta, abriu-a e leu.
Dizia assim:
Ainda uma vez curvo-me às tuas injustiças. Estou cansada de chorar. Não posso mais viver debaixo da ação de uma calúnia. Vem ou eu morro!
Ernesto esfregou os olhos; não podia crer no que acabava de ler. Seria um novo ardil, ou a expressão da verdade? Ardil podia ser; mas Ernesto atentou bem e pareceu-lhe ver o sinal de uma lágrima. Evidentemente