Página:Historias da meia noite.djvu/151

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felicidade das mãos, sem ao menos merecer a sua estima, porque o senhor despreza-me; sem ao menos saber o que é essa calúnia para desmenti-la ou desmascará-la...

— É capaz disso? perguntou Ernesto com fogo. É capaz de confundir a calúnia?

— Sou, disse ela com um magnífico gesto de dignidade.

Ernesto expôs em resumo a conversa que tivera com o rapaz de nariz comprido, e concluiu dizendo que vira uma carta dela. Rosina ouviu calada a narração: tinha o peito ofegante; sentia-se a comoção que a dominava. Quando ele acabou, soltou uma torrente de lágrimas.

— Meu Deus! disse baixinho Ernesto, podem ouvi-la.

— Não importa, exclamou a moça; estou disposta a tudo...

— Diga-me, pode negar o que lhe acabo de contar?

— Tudo, não; alguma coisa é verdade, respondeu ela com voz triste.

— Ah!

— A promessa de casamento é mentira; não houve mais que duas cartas, duas apenas, e isto... por sua culpa...

— Por minha culpa! exclamou Ernesto tão assombrado como se acabasse de ver um dos castiçais a dançar.