— Uma estrela? Ao meio-dia é raro...
— Oh! não falo dessas, interrompeu Luís Tinoco; lá é que ela devia estar, ali no espaço azul, entre as outras suas irmãs, mais velhas do que ela e menos formosas...
— Uma moça?
— Uma moca, é pouco; diga a mais gentil criatura que o sol ainda alumiou, uma sílfide, a minha Beatriz, a minha Julieta, a minha Laura...
— Escusa dizê-lo; deve ser muito formosa se fez apaixonar um poeta.
— Meu amigo, o senhor é um grande homem; Laura é um anjo, e eu adoro-a...
— E ela?
— Ela ignora talvez que eu me consumo.
— Isso é mau!
— Que quer? disse Luís Tinoco enxugando com o lenço uma lágrima imaginária; é fado dos poetas arderem por coisas que não podem obter. É esse o pensamento de uns versos que escrevi há oito dias. Publiquei-os no Caramanchão Literário.
— Que diacho é isso?
— É a minha folha, que eu lhe mando de quinze em quinze dias... E diz que lê as minhas obras!
— As obras leio... Agora os títulos podem escapar. Vamos porém ao que importa. Ninguém lhe contesta talento nem inspiração fecunda; mas o senhor ilude-se pensando que pode viver dos versos e dos artigos literários...