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historias da meia noite

Não abonava muito os seus sentimentos patrioticos o rosto com que entrou a barra da capital brazileira. Trazia-o fechado e merencorio, como quem abafa em si alguma cousa que não é exactamente a bemaventurança terrestre. Arrastou um olhar aborrecido pela cidade, que se ia desenrolando á proporção que o navio se dirigia ao ancoradouro. Quando veiu a hora de desembarcar fel-o com a mesma alegria com que o reu transpõe os umbraes do carcere. O escaler affastou-se do navio em cujo mastro fluctuava uma bandeira tricolor; Camillo murmurou comsigo:

— Adeus, França!

Depois envolveu-se n’um magnífico silêncio e deixou-se levar para terra.

O espectaculo da cidade, que elle não via ha tanto tempo, sempre lhe prendeu um pouco a attenção. Não tinha porêm dentro da alma o alvorôço de Ulysses ao ver a terra da sua patria. Era antes pasmo e tedio. Comparava o que via agora com o que vira durante longos annos, e sentia a mais e mais apertar-lhe o coração a dolorosa saudade que o minava. Encaminhou-se para o primeiro hotel que lhe pareceu conveniente, e alli determinou passar alguns dias, antes de seguir para Goyaz. Jantou solitario e triste com a mente cheia de mil recordações do mundo que acabava de deixar, e para dar ainda maior desafôgo á memoria, apenas acabado o jantar, estendeu-se n’um