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Página:Historias de Reis e Principes.djvu/168

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TRADIÇÃO GALANTE DE D. MIGUEL
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a Venus do museu secreto de Napoles; mas com am pé a mais, cabellos loiros, e uns contornos capazes de fulminarem os Sátyros nos bosques. D. Miguel ardia; escutava o ruge-ruge do setim inglez, e esse duo voluptuoso que canta a luva d'uma mulher quando acaricía as dobras ondulosas do vestido! Oh! que se eu estivesse em Lisboa! dizia D. Miguel em voz baixa e patois portuguez. Á força de contemplar o corpo flexivel da sua encantadora visinha, D. Miguel julgou-se transportado a Lisboa, deixou pender uma das suas reaes mãos até tocar no hombro de madame Aldobrandini.

«—Mylord! exclamou madame Aldobrandini, repellindo o contacto.

«O gonfaloneiro empallideceu, Gregorio VII interrompeu a ceremonia, e o principe Aldobrandini Borghese arrastou D. Miguel para junto do obelisco que Augusto dedicára ao Sol.

«—Monsieur, disse o esposo ultrajado, eu descendo em linha recta de Hildebrando, que mandou açoitar os cardeaes francezes Ossat e Duperron, representantes de Henrique IV; descendo de Paulo Borghese, o papa que concluiu esta basilica e, se duvidais, lêde aquella inscripção: Paulus Borghesius, etc. Sou pelo menos vosso igual; vinde cruzar a vossa espada com a minha, aqui muito perto, nos pinheiraes de villa Negroni. Vinde!

«D. Miguel respondeu:

«—Sou rei, e ungido do Senhor. Sou assaz bom