Página:Historias de Reis e Principes.djvu/292

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Então, de todas as casas principiam a sahir os homens vestidos de burel, com calções, polainas e barrete, as mulheres vestidas de lã, colletes curtos, cabello cortado, lenço de linho na cabeça, e, assim reunida a communa, resolve, como outr'ora faziam os lusitanos e como ainda hoje costumam fazer os bascos, representantes dos primitivos iberos.

Eu digo francamente que, se não existisse o Gerez, teria sido conveniente invental-o, a fim de que el-rei o podesse visitar; como Potemkin inventou, para illudir Catharina II, panoramas phantasticos ao longo das desoladas steppes da Russia.

Fizessem muito embora um Gerez de lona, comtanto que o povoassem com os bons serranos do Minho, que fallam ao rei com o coração nas mãos calosas, ao contrario dos cortezãos de Lisboa, que fallam ao rei com o coração nos giolhos postos em terra.

Os de lá curvam-se ao snr. D. Luiz como se curvavam ao arcebispo D. Frei Bartholomeu dos Martyres, cheios de sincera reverencia e de humildade respeitosa. Os de cá curvam-se para que as dadivas do rei lhes possam acertar mais facilmente nas mãos abertas. A distancia moral não é menor do que a que geographicamente existe entre o Gerez e Lisboa.

O rei tem agora visto o que talvez ignorava,—que ha homens bons no Alto Minho, de uma innocencia paradisiaca, que se governam sem incommodar o governo, e que cantam lôas á realeza sem rima, mas tambem sem interesse.

D'isto só no Gerez!