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HISTORIAS DE REIS E PRINCIPES
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N'este lance da nossa historia precisamos conversar um pouco a respeito do poeta Wyat, aliás famoso, comquanto amorosamente fosse mais pateta do que poeta.

Creado desde pequeno com Anna Boleyn, estabeleceu-se entre os dois um d'aquelles idyllios infantis de que Bernardin de Saint-Pierre deixou uma photographia generica na pastoral de Paulo e Virginia.

Mas os devaneios d'essa idade são gorgeios de rouxinol que ascendem ao azul, e por lá ficam pairando n'uma alada melodia, que lembra toda a vida com maior fiasco do que saudade.

Emquanto a pureza dos idyllios platonicos se libra nos ares, as mulheres positivas que os inspiraram vão cá na terra saboreando as iguarias do peccado com grande menospreço pelos poetas bucolicos que não souberam ir além do platonismo piégas.

Conta Pliego que a alcoveta de Anna Boleyn, na noite em que introduzira na camara da rainha Marcos Smeaton, e no momento de o occultar com o espaldar do regio catre, dissera para disfarce, pondo junto ao leito uma bandeja: «Senhora, aqui está a marmelada.»

A marmelada era Marcos Smeaton.

Foi a isto que eu chamei metaphoricamente iguarias do peccado.

O pobre Wyat, quando Anna Boleyn subiu de marqueza de Pembroke a rainha de Inglaterra, o mais que fez foi chorar sobre as ruinas do seu proprio platonismo. Compoz, ahi por 1535, uma elegia