Página:Historias e sonhos - contos (1920).djvu/104

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moreno-claro e as jóias rutilantes saíam muito friamente do fundo negro do vestido, discretamente decotado em quadrado, eu perguntei:

— Quem é?

— Não conheces? A Pilar, a "Espanhola".

— Ah! Como se consente?

— E um lugar público... Não há provas. Demais, todas as "outras" a invejavam... Tem jóias caras, carros, palacetes...

—Já vens tu...

— Ora! Queres ver? Vê o sexto camarote de segunda ordem, contando de lá para cá! Viste?

—Vi.

— Conheces a senhora que lá está?

— Não, respondi.

— E a mulher do Aldong, que não tem rendimentos, sem profissão conhecida ou com a vaga de que trata de negócios. Pois bem: há mais de vinte anos, depois de ter gasto a fortuna da mulher, ele a sustenta como um nababo. Adiante, embaixo, no camarote de primeira ordem, vês aquela moça que está com a família?

— Vejo. Quem é?

— E a filha do doutor Silva a quem, certo dia, encontraram, em uma festa campestre, naquela atitude que Anatole France, num dos Bergerets, diz ter alguma cousa de luta e de amor... E os homens não ficam atrás...

— És cruel!

— Repara naquele que está na segunda fila, quarta cadeira, primeira classe. Sabes de que vive?

— Não.

— Nem eu. Mas, ao que corre, é banqueiro de casa de jogo. E aquele general, acolá? Quem é?

— Não sei.

— O nome não vem ao caso; mas sempre ganhou as batalhas... nos jornais. Aquele almirante que tu vês, naquele camarote, possui todas as bravuras, menos a de afrontar os perigos do mar. Mais além, está o Desembargador Genserico...