artista, podia perfeitamente e sem desdouro pagar quantias ínfimas; o veículo seguiu pacatamente o seu caminho, levando o meu espanto e a minha admiração pela transformação que se havia dado no temperamento do meu antigo colega de colégio. Pois era aquele parlapatão, o tímido Ezequiel?
Pois aquele presunçoso que não era da laia dos que pagam era o cismático Ezequiel do colégio, sempre a sonhar viagens maravilhosas, à Jules Verne? Que teria havido nele? Ele me pareceu inteiramente são, no momento e para sempre.
Travamos conversa e mesmo a procurei, para decifrar tão interessante enigma.
— Que diabo, Beiriz! Onde tens andado? Creio que há bem quinze anos que não nos vemos - não é? Onde andaste?
— Ora! Por esse mundo de Cristo. A última vez que nos encontramos... Quando foi mesmo?
— Quando eu ia embarcar para o interior do Estado do Rio, visitar a família.
— E verdade! Tens boa memória... Despedimo-nos no Largo do Paço... Ias para Muruí - não é isso?
— Exatamente.
— Eu, logo em seguida, parti para o Recife a estudar direito.
— Estiveste lá este tempo todo?
— Não. Voltei para aqui, logo de dois anos passados lá.
— Por quê?
— Aborrecia-me aquela "chorumela" de direito... Aquela vida solta de estudantes de província não me agradava... São vaidosos... A sociedade lhes dá muita importância, daí...
— Mas, que tinhas com isso? Fazias vida à parte...
— Qual! Não era bem isso o que eu sentia... Estava era aborrecidíssimo com a natureza daqueles estudos... Queria outros.. .
— E tentaste?