O baile começou com a música de um "terno" de flauta, cavaquinho e violão. A polca era a dança preferida e quase todos a dançavam com requebros próprios de samba.
Num intervalo Joaquim convidou:
- Por que não canta, "seu" Júlio?
- Estou sem voz, respondeu ele.
Até ali, ele tinha tomado parte no "remo"; e, repinicando as cordas, não deixava de devorar com os olhos os bamboleios de quadris de Clarinha, quando dançava. Vendo que seu pai convidara o rapaz, animou-se a fazê-lo também:
- Por que não canta, "seu" Júlio? Dizem que o senhor canta tão bem...
Esse - "tão bem" - foi alongado maciamente. O cantador acudiu logo:
- Qual, minha senhora! São bondades dos camaradas...
Concertou a "pastinha" com as duas mãos, enquanto Clara dizia:
- Cante! Vá!
- Já que a senhora manda, disse ele, vou cantar.
Com todo o dengue, agarrou o violão, fez estalar as cordas e anunciou:
- Amor e sonho.
E começou com uma voz muito alta, quase berrando, a modinha, para depois arrastá-la num tom mais baixo, cheio de mágoa e langor, sibilando os "ss", carregando os "rr" das metáforas horrendas de que estava cheia a cantoria. A cousa era, porém, sincera; e mesmo as comparações estrambóticas levantavam nos singelos cérebros das ouvintes largas perspectivas de sonhos, erguiam desejos, despertavam anseios e visões douradas. Acabou. Os aplausos foram entusiásticos e só Clarínha não aplaudiu, porque, tendo sonhado durante toda a modinha, ficara ainda embevecida quando ela acabou...
Dias depois, vindo à janela por acaso - era de tarde - sem grande surpresa, como se já o esperasse, Clara recebeu o cumprimento do cantor magoado. Não pôs