E o "turco", desde muito cedo, andava pelos subúrbios a mercar aqueles coloridos registros de santos. Havia um são João Batista, com a sua tanga, o seu bordão de pastor e o seu inocente carneiro que olhava doce tudo o que via fora da estampa; havia um Cristo com o coração muito rubro à mostra, coroado de espinhos, e os olhos revirados para o Céu que naquele dia estava lindo, de um profundo azul-cobalto; havia uma Ceia em que Jesus presidia, mansueto e resignado, apesar de se saber traído, e havia muitos outros santos e santas que o "turco" levava, alguns enrolados, mas outros diante do seu peito arquejante das suas caminhadas de humilde bufarinheiro, daquelas modestas paragens da cidade.
E ele ia:
- Compra, sinhor! Muita bonita!
Das casas, às vezes, lá saía uma mulher ou outra, de cores as mais variadas, e indagava com desprezo:
- Olá! O que é que você leva aí?
Miguel José parava, aproximava-se da porteira e respondia:
- Santa, sinhora! Muita bonita!
- Que santos tem?
- Muitas, sinhora. Tuda bonita.