de ganga rala e uma máscara apavorante de olhos esbugalhados, língua retorcida e chifres agressivos, apareceu tão amedrontadora que se o próprio diabo a visse teria medo.
A mãe, ao barulho dos guizos, virou-se, e, vendo aquilo, ficou subitamente cheia de más suspeitas:
— Zeca, que é isso?
Uma visão dolorosa lhe chegou aos olhos, da casa de detenção, das suas grades, dos seus muros altos... Ah! meu Deus! Antes uma boa morte!... E repetiu ainda mais severamente:
— Que é isso, Zeca? Onde você arranjou isso?
— Não... mamãe... não...
— Você roubou, meu filho?... Zeca, meu filho! Pobre, sim; mas ladrão, não! Ah! meu Deus!... Onde você arranjou isso, Zeca?
A pobre mulher quase chorava e o pequeno, transido de medo e com a comoção diante da dor da mãe, balbuciava, titubeava e as palavras não lhe vinham. Afinal, disse:
— Mas... mamãe... não foi assim...
— Como foi? Diz!
— Foi “seu” Castro quem me deu. Eu não pedi...
Dona Felismina sossegou e o pequeno também. Passados instantes, ela perguntou com outra voz:
— Mas para que você quer isso? Antes tivesse dado a você umas camisas... Para que essas bobagens? Isso é para gente rica, que pode. Enfim...
— Mas, mamãe, eu aceitei, porque precisava.
— Disto! Ninguém precisa disto! Precisa-se de roupa e comida... Isto são tolices!
— Eu precisava, sim senhora.
— Como, você precisava?
— Não lhe contei que há meses, diversas vezes, quando passava, para ir à casa de dona Ludovina, diante do portão do capitão Albuquerque, os meninos gritavam: ó moleque! — ó moleque! — ó negro! — ó gibi!? Não lhe contei?
— Contou-me; e daí?