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Página:Historias sem data.djvu/101

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lhe levemente no pulso, a segunda subjugando-a com o olhar. E dizia sorrindo:

--Olhe, yayá, tenho uma razão philosophica para não fazer o que você me pede. Nunca lhe disse isto; mas já agora confio-lhe tudo.

Marianna mordia o labio, sem dizer mais nada; pegou de uma faca, e entrou a bater com ella devagarinho para fazer alguma cousa; mas, nem isso mesmo consentiu o marido, que lhe tirou a faca delicadamente, e continuou:

--A escolha do chapéo não é uma acção indifferente, como você póde suppor; é regida por um principio metaphysico. Não cuide que quem compra um chapéo exerce uma acção voluntária e livre; a verdade é que obedece a um determinismo obscuro. A illusão da liberdade existe arraigada nos compradores, e é mantida pelos chapelleiros que, ao verem um freguez ensaiar trinta ou quarenta chapéos, e sair sem comprar nenhum, imaginam que elle está procurando livremente uma combinação elegante. O principio metaphysico é este:--o chapéo é a integração do homem, um prolongamento da cabeça, um complemento decretado _ab eterno_; ninguem o póde trocar sem mutilação. É uma questão profunda que ainda não occorreu a ninguem. Os sabios tem estudado