Sophia, prática daquelles mares, transpunha, rasgava ou contornava as gentes com muita pericia e tranquillidade. A figura impunha; os que a conheciam gostavam de vel-a outra vez; os que não a conheciam paravam ou voltavam-se para admirar-lhe o garbo. E a boa senhora, cheia de caridade, derramava os olhos á direita e a esquerda, sem grande escandalo, porque Marianna servia a cohonestar os movimentos. Nada dizia seguidamente; parece até que mal ouvia as respostas da outra: mas fallava de tudo, de outras damas que iam ou vinham, de uma loja, de um chapéo... Justamente os chapéos,--de senhora ou de homem,--abundavam naquella primeira hora da rua do Ouvidor.
--Olha este, dizia-lhe Sophia.
E Marianna acudia a vel-os, femininos ou masculinos, sem saber onde ficar, porque os demonios dos chapéos succediam-se como n'um kaleidoscopio. Onde era o dentista? perguntava ella á amiga. Sophia só á segunda vez lhe respondeu que tinham passado a casa; mas já agora iriam até ao fim da rua; voltariam depois. Voltaram finalmente.
--Uf! respirou Marianna entrando no corredor.
--Que é, meu Deus? Ora você! Parece da roça... A sala do dentista tinha já algumas freguezas.