ainda fechados, parecem estar contando alguma cousa, para adivinhar logo que a feição capital do nosso homem é a voracidade do lucro. Entendamo-nos: elle faz arte pela arte, não ama o dinheiro pelo que elle póde dar, mas pelo que é em si mesmo! Ninguem lhe vá fallar dos regalos da vida. Não tem cama fofa, nem mesa fina, nem carruagem, nem commenda. Não se ganha dinheiro para esbanjal-o, dizia elle. Vive de migalhas; tudo o que amontoa é para a contemplação. Vai muitas vezes á burra, que está na alcova de dormir, com o unico fim de fartar os olhos nos rolos de ouro e maços de titulos. Outras vezes, por um requinte de erotismo pecuniario, contempla-os só de memoria. N'este particular, tudo o que eu pudesse dizer, ficaria abaixo de uma palavra d'elle mesmo, em 1857.
Já então millionario, ou quasi, encontrou na rua dois meninos, seus conhecidos, que lhe perguntaram se uma nota de cinco mil réis, que lhes dera um tio, era verdadeira. Corriam algumas notas falsas, e os pequenos lembraram-se d'isso em caminho. Falcão ia com um amigo. Pegou tremulo na nota, examinou-a bem, virou-a, revirou-a...
— É falsa? perguntou com impaciencia um dos meninos.