em casa, na Lapa, e foi ao escriptorio aviar alguns papeis urgentes. Pouco depois do meio-dia appareceu-lhe um tal Leandro ex-agente de certo advogado a pedir-lhe, como de costume, dois ou tres mil réis. Era um sugeito réles e vadio. Vivia a explorar os amigos do antigo patrão. Andrade deu-lhe tres mil réis, e, como o visse excepcionalmente risonho, perguntou-lhe se tinha visto passarinho verde. O Leandro piscou os olhos e lambeu os beiços: o Andrade, que dava o cavaco por anedoctas eroticas, perguntou-lhe se eram amores. Elle mastigou um pouco, e confessou que sim.
—Olhe; lá vem ella sahindo: não é ella?
—Ella mesma; afastemo-nos da esquina.
—Realmente, deve ter sido muito bonita. Tem um ar de duqueza.
—Não olhou para cá; não olha nunca para os lados. Vai subir pela rua do Ouvidor...
—Sim, senhor. Comprehendo o Andrade.
—Vamos ao caso. O Leandro confessou que tivera na vespera uma fortuna rara, ou antes unica, uma cousa que elle nunca esperara achar, nem merecia mesmo, porque se conhecia e não passava de um pobre diabo. Mas, emfim, os pobres tambem são filhos de Deus. Foi o caso que, na vespera