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Página:Horto (1910).djvu/195

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E d’entro d’alma, nua de esperança,
Eu penso ouvir como n’um sonho doce
Alguém que fala numa voz tão mansa
Como se o eco de um suspiro fosse:

“Vem a mim se padeces: no meu seio
Corre a fonte serena da Alegria...
Eu sou Aquele que sorrindo veio
Dourar as trevas da Melancolia.

Eu sou um branco e pálido sorriso
Iluminando a tua solidão:
Faze de minha Cruz um Paraíso
E do meu Coração teu coração.

Faze-te humilde, humilde e pequenina,
Como as crianças, como os passarinhos...
Escuta e guarda a minha lei divina,
No sacrário ideal dos meus carinhos.

Não sabes quanto padeci no Horto,
Por ti, por teu amor, filha querida?
Eu sou o Anjo formoso do conforto,
Venho trazer o bálsamo à ferida.

Carrega a tua Cruz e vem comigo
Pela estrada da Dor e do Tormento.
Eu serei teu irmão, teu sol, o amigo
Que em lírios mudará o sofrimento.