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HORTO
Inda não era sol posto...
Quanto perfume trazia
A aragem fresca e macia
D’aquella tarde de Agosto!
Devagarinho, no solo,
Sentei-me a cantarolar;
De manso, puz-me a embalar
O pobresinho no collo.
Que tempo estive, não sei!
Do mundo inteiro distante,
O jardim, naquelle instante,
Foi a terra que eu amei.
Depois... a noite descia...
E eu senti, dentro do seio,
Não sei que vago receio
Da tarde que, além, morria!
N’uma gaiola pequena
Fui deitar o passarinho,
Fazendo lá dentro um ninho
Dê algodão frouxo e de penna.
Mas dias depois, ó dor!
Que grande desdita a minha!
No fundo da gaiolinha
Achei morto o pobre amor.