Página:Innocencia (1872).djvu/120

Wikisource, a biblioteca livre

—Saco-sonha! exclamou Pereira. Não conheço... Mas, então lá muita gente há de andar a morrer de fome...

—Pelos últimos cálculos, replicou Meyer com várias pausas durante as quais introduzia enormes colheradas da mistura que lhe aconselhara o anfitrião, é sabido que em Londres morrem no inverno oito pessoas à míngua, em Berlim cinco, em Viena quatro, em Pequim doze, em Iedo sete, em...

—Salta! atalhou Pereira exultando de prazer, então viva cá o nosso Brasil! Nele ninguém se lembra até de ter fome. Quando nada se tenha que comer, vai-se no mato, e fura-se mel de jataí e manduri, ou chupa-se miolo de macaubeira. Isto é cá por estas bandas; porque nas cidades, basta estender a mão, logo chovem esmolas... Assim é que entendo uma terra... o mais é desgraça e consumição ...

—Decerto! corroborou o alemão, o Brasil é um país muito fértil e muito rico. Dá café para meio mundo beber e ainda há de dar para todo o globo, quando tiver mais gente... mais população...

—Bem eu sempre digo, acudiu Pereira tocando no ombro de Cirino e deitando-lhe uns olhos de triunfo. Lá fora é que nos conhecem, nos fazem justiça... Não acha, patrício? Homem, agora reparo ...vosmecê está tão calado!... meio casmurro, que é isso? sempre aquele negócio?

De fato, Cirino, depois que ouvirá o convite a Meyer para conviver no interior da casa de Pereira, tornara-se sombrio, inquieto, meditabundo. O corpo ali estava, mas a sua imaginação