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Página:Innocencia (1872).djvu/144

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e voltou logo o rosto para fugir dos olhares ardentes de Cirino.

—A mezinha? pediu ela por fim toda comovida.

—Ah! é verdade! exclamou Cirino. Ande, Tico: vá buscar café a cozinha. Lave bem um pires... percebeu?

O anão fitou o moço com altivez e não se mexeu.

—Você é surdo?

—Não, respondeu Inocência. Tico, às vezes, por manha é que se faz ansim de mouco.

Voltando-se então para o homúnculo, insistiu com voz meiga e carinhosa:

—Vai, Tico; é para mim, ouviu?

Transformou-se repentinamente a fisionomia do anão. Pairou-lhe nos lábios inefável sorriso, meneou a cabeça duas ou três vezes com a força de uma afirmação, mas, colérico, enrugou a testa e moveu olhos inquietos e duvidosos.

Inocência teve que repetir o recado.

—Já lhe disse, Tico: vai buscar o café.

A esta quase ordem não ousou ele resistir mas saiu devagarzinho, voltando-se várias vezes antes de entrar na cozinha, onde muito pouco se demorou.

Neste entrementes tomara Cirino o pulso de Inocência e, sem pensar no que fazia, quebrando a débil resistência da menina, cobrira-lhe de beijos o braço e a mãozinha que havia segurado.

—Meu Deus! balbuciou ela, que é isto?... Olhe, aí vem Tico.