Página:Inspirações do Claustro.djvu/21

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e notavelmente grave. O americano de hoje não é mais o descendente do inglês, é tão inglês como é este normando; procede o povo inglês de hoje de uma única raça, saxônica, normanda, ou da primitiva, que encontraram os romanos, quando, no seu tempo de domínio universal, se apodera­ram das ilhas dalem da Mancha? De certo, não. Formou-se uma nação original da aglomeração de todos os povos, que para ali se dirigiram, e que, inimigos ao principio, se foram, depois das sucessivas conquistas, aproximando e aluando, reunindo elementos heterogêneos, e fundindo as raças. É assim hoje o povo americano. A origem foi, em geral, britânica; mas a torrente de colonização, e as tendências da democracia, a tem metamorfoseado já, de modo a nem reconhecer-se talvez mais a tintura primitiva. Amálgama de Alemão, Inglês, Francês. Espanhol, Ita­liano, e até de gente do Norte, tornou-se uma raça nova e distinta, cujos traços se manifestam à primeira vista, apesar da homogeneidade da língua. Não pode portanto escapar a sua literatura às divergências sensíveis e graves, que se­param a sua sociedade da sociedade da antiga metrópole.

Se bem que entre o povo do Brasil e o de Portugal não apareça uma tão grande diferença, porque nem as insti­tuições, e governo das duas nações se distinguem em tão larga escala, e nem tem o Brasil modificado a raça con­quistadora com a infusão de sangue de outras raças diversas, como sucedeu no Norte da América; há todavia no céu, na terra, nos mares, nos rios, na atmosfera, na distancia, nas produções da natureza, enfim, uma separação tão palpável, que já, durante os tempos coloniais, distinguiram se alguns poetas nascidos no Brasil, pelas vestes, colorido, e tendências de seus escritos, dos vates da Lusitânia, se bem que a maior parte, educando-se, e vivendo na Europa, adotaram inteiramente os hábitos portugueses, e seguiram as inspirações de Ferreira, Quita, e Sá de Miranda.

Souberam todavia tomar diferente direção, Cláudio Ma­nuel, Basílio da Gama, e Durão, que se podem apelidar os chefes da literatura brasileira, que hoje, com a emancipação política,