Página:Inspirações do Claustro.djvu/34

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Ao ardor meridiano
Ouvem-te ainda cantar.
Não vês a mágoa estampada
Na face crepuscular.
 
Pela escada da ventura
Sobes cad'hora um degrau,
Tua existência mimosa
É um contínuo sarau.
 
Belo jovem, — no teu peito
Não tocou a mão da dor.
Teu espírito inocente
Pode bem pensar de amor.
 
Belo jovem, — só tu podes
Co'os sentimentos na mão,
Falar palavras ardentes,
Labaredas de paixão.
 
Eu que tenho lutado contra a vida,
Bebido noutro cálice de dores,
Jovem! — não posso meditar doçuras,
Cantar ternos amores.
 
Eu que nunca senti nos olhos dalma
O traspassar dos olhos da donzela,
Jovem! — não posso te pintar ardores
Que não senti por ela.