Blasfemei! — e no reino das chamas
Dos demônios ouviu-me a coorte:
E rompeu numa horrível orquestra,
Digna festa dos filhos da morte!
A minh'alma riscou-a em seu livro
De meu Deus o cruel querubim.
Não faz mal: foi por ti que perdi-a.
Oxalá que eu ganhasse-te assim!
Mas tormentos oprimem teu peito
Mais terríveis talvez que este inferno.
Sim: tu sofres, — eu sei, — mais angustias
Do que sofre meu peito materno.
Já não brinca o prazer em teus olhos
Mais travessos, que vivo delfim,
As tristezas, que afeiam teu rosto,
Não há delas nos homens assim.
Não me escondas, meu filho, estas penas,
De pesares comuns não me prives.
Eu bem sei que sem mim — entre estranhos —
É difícil a vida que vives.
Vem, descerra, meu filho, estes lábios,
Onde vi transpirar-te o carmim.
Foste ingrato, é verdade: mas sabe
Que eu te estimo, meu filho, inda assim.
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