Antes de se retirar, Palmyra sentou-se ao piano, e preludeou uma valsa, sua favorita, uma valsa allemã — a Saudade.
Ouvio-se o tropel de um cavallo, a gallope.
A moça, por um inexplicavel presentimento julgou, e julgou bem ser o seu desconhecido visinho, e immediatamente o piano sob seus mimosos dedos suspirou o final da [[w:Lucia di Lammermoor|aria da Lucia de Larmemoor: «Oh bell’ alma innamorata.»
— O que é isso menina? Disse sua mãe. — Onde estás com a cabeça?
— Ora, mamãe, estou apenas brincando.
As onze horas, mãe e filha se retiraram acompanhadas por Jorge, o irmão de Nóla.
Diz o vulgo que os sentimentos os mais profundamente enraizados no coração pela natureza se apagam, murcham, morrem e desapparecem com o sopro gelado do tempo.
Não assim os amores que invadem as almas nobres.
As phrases do amor de Palmyra foram bem estranhas e revelam os miseraveis instinctos do orgulho e da incredulidade de certos caracteres. Os leitores nos permittirão que conservemos occulto no seu sudario o nome do moço por quem Palmyra sentira o primeiro e unico amor.
A bellesa, a cujas plantas se curvára o talento, o genio, cedera por sua vez á força de persuadir que dimanava dos labios d’aquelle moço e que tranluzia em todos os seus escriptos.
Palmyra, recebia d’elle as mais apaixonadas cartas, e uma ou outra vez se limitava a escrever ao moço algumas palavras: «Sou e serei tua até a morte.» Palmyra. Foi a sua ultima carta.
Apezar dos esforços empregádos pela moça, o seu escolhido quiz frequentar-lhe a casa.
Nóla, sua intima amiga, tinha sido pedida em casamento por um fazendeiro rico. A pobre menina hesitava entre os desejos de seus paes, o ouro e brilhantes de seu noivo, e os seus sonhos de moça.
Cedeu, e contra sua vontade, cazou com o tal fazendeiro.
No dia de nupcias Nóla, escondendo o pallido rosto no seio offegante de Palmyra, orvalhou-o de lagrimas e disse-lhe:
— Minha querida amiga, obedeci á vontade de meus paes, mas a ti juro-te que nunca poderei amar este homem que váe hoje ser meu marido.