Saltar para o conteúdo

Página:Lendas e Narrativas - Tomo I.djvu/114

Wikisource, a biblioteca livre

outros do arrabalde da Pedreira, ou bairro do almirante, [1] outros da banda da alcaçova, outros, emfim, desembocando das ruas estreitas e irregulares que íam dar á opulenta e celebre rua-nova. [2] Homens e mulheres apinhavam-se aos dez e aos doze no meio da praça e ás bocas das ruas; falavam, meneavam-se, riam, cbamavam-se uns aos outros. Ás vezes aquella mó de gente, cujo vulto engrossava de minuto para minuto, agitava-se como a superficie de um pego passando o tufão. Incerta, vacillante, informe, subitamente se configurava, alinhava-se, e semelhante a triangulo enorme, a quadrella gigante desfechada de trom monstruoso, vibrava-se contra a vasta alpendrada do mosteiro, cujas portas ainda estavam fechadas. Ahi hesitava, ondeava e retrahia-se, como resultaria a folha cortadora de uma acha d’armas quando não podesse romper as portas chapeadas de forte castello. Então aquella multidão tomava a fórma de meia lua, cujas pontas se encurvavam pelos lados de Valverde e da Mouraria, e vinham topar uma com outra por baixo do bairro ladeirento da Pedreira, d’onde, confundindo-se e irradiando-

  1. Hoje o bairro dentro da rua larga de São Roque, Chiado, Rua do Ouro, Rocio e Calçada do Duque.
  2. Hoje Rua dos Capellistas