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Página:Lendas e Narrativas - Tomo I.djvu/117

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reboavam dentro da igreja, e que transsudavam por todos os poros do gigante de pedra um murmurio de paz, de resignação e de confiança em Deus.

O povo, porém, era como os homens robustos do Genesis: era impio, porque era robusto.

O dia crescia, e crescia com elle a desconfiança. As noticias corriam encontradas: ora se dizia que elrei cedêra aos desejos dos seus vassallos e dos peões, e que viria annuncíar ao povo a sua separação de Leonor Telles; ora pelo contrario se asseverava que elle era firme em sustentar a resolução contraria. Havia até quem asseverasse que na alcaçova e no terreiro de S. Martínho se começavam a ajunctar homens d’armas e bésteiros. A colera popular crescia, porque a atiçava já o temor.

No meio de uma pilha de galeotes, carniceiros, pescadores, moleiros, lagareiros e alfagemes, dous homens altercavam violentamente: eram Ayras Gil e Fr. Roy: objecto da disputa Fernão Vasques; arguente o petintal; defendente o beguino.

“Que não vira, vos digo eu:—­gritava Ayras Gil.—­Disse-m’o Garciodonez, o mercador de pannos, que mora ao cabo da rua-nova, aos açougues, defronte das taracenas d’elrei.”

“Mentiu pela gorja como um perro judeu:—­