Página:Lendas e Narrativas - Tomo I.djvu/133

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“Abre, D. Judas, abre!”—­disse outra voz, que pelo metal parecia feminina, e que soou do lado opposto do aposento.

A porta rodou nos gonzos, e o ichacorvos entrou.

Era o logar em que Fr. Roy se achava uma quadra pequena, allumiada escaçamente por uma fresta esguia e engradada de grossos varões de ferro, a qual dava para uma especie de saguão, ainda mais acanhado que o aposento. A abobada deste era de pedra; de pedra as paredes e o pavimento: ao redor viam-se por unico adereço muitas arcas chapeadas de ferro. O monge entrára na casa das arcas da corôa—­do recabedo do regno. As duas personagens que ahi estavam, afóra a que abríra a porta, eram D. Fernando e D. Leonor. Elrei, de pé, curvado sobre uma das arcas, com a fronte firmada sobre o braço esquerdo, folheava um desconforme volume de folhas de pergaminho, cujas guardas eram duas alentadas taboas de castanho, forradas exteriormente de couro cru de boi, ainda com pello. [1]

  1. Para não enfadarmos os leitores com um sem numero de notas declarâmos por uma vez que todos os costumes e objectos que descrevemos são exactos e da epocha, porque para taes descripções nos fundámos sempre em documentos ou monumentos.