Página:Lendas e Narrativas - Tomo I.djvu/151

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dizer, uma preexistencia, uma harmonia pre-estabelecida do algoz.

Passára obra de meia hora, e o beguino começava a impacientar-se mui seriamente quando sentiu pés de cavalgadura no pateo interior do edificio. D’ahi a pouco um donzel, trazendo na mão uma desconforme chave, e as rédeas de uma valente mula enfiadas no braço, chegou á porta e começou a abri-la. Era um dos donzeis d’elrei. Costumado a disfarçar a sua frequente entrada no paço sob a capa da mendicidade, e habituado a estender a mão á espera de alguns soldos que devotamente lhe atiravam senhores, cavalleiros e escudeiros, ao que elle retribuia com a longa lenda das suas orações em aleijado latim, Fr. Roy era acceito a quasi todos os moradores da casa d’elrei, que respeitavam a sua apparente sanctidade. Por isso, saindo do seu desvão, encaminhou-se para a porta.

“A madre Sancta Maria vos guarde de máu olhado, de feitiços e de ligamentos:—­disse elle, chegando-se ao donzel, e fazendo sobresair esta ultima palavra.

“Vós aqui, Fr. Roy. por estas horas?—­replicou o donzel, voltando-se admirado.

“Que quereis!—­tornou o beguino.-Quando hontem os maldictos burguezes accommetteram