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Página:Lendas e Narrativas - Tomo I.djvu/186

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ARRHAS

por outro em troco de valimento infame. O velho entendeu o que significava este convulso apertar de mão: duas lagrymas lhe cahiram pelas faces; mas obedeceu a elrei.

Só faltava D. Diniz, que continuára a ficar immovel. Houve um momento de silencio sepulchral na vasta sala, e este silencio era para todos indefinido, mas terrivel.

D. Fernando poz-se a olhar fito para seu irmão, enleiado, ao que parecia, em scismar profundo.

Pouco a pouco todos os fidalgos que povoavam aquella immensa quadra se poderiam crer petrificados como as columnas gothicas, que sustinham as voltas ponteagudas do tecto, se não fosse o respirar anciado e rapido que lhes fazia ranger sobre os peitos e hombros os seus ricos briaes. [1]

  1. O brial era uma especie de camisola que os cavalleiros vestiam sobre as armas, e por cima da qual apertaram o cincto da espada. Tambem o vestiam sobre os pannos interiores quando andavam desarmados. O seu uso durou por toda a idade media, e era ainda lembrado nos fins do seculo decimo-sexto, em que o auctor, ou traductor, do Palmeirim d’Inglaterra tantas vezes o menciona. Nas leis sumptuarias de Alfonso IV não se tracta é verdade de tal vestido; mas a razão d’isso é obvia: o brial era trajo militar, e aquellas leis versam sobre o vestuario civil. Na ordenação affonsina L. 1.°, til. 63, § 21, se manda cingir a espada ao movel sobre o brial. O diccionario de Moraes affirma que o brial era o manto dos cavalleiros: é um dos bastos destemperos daquella babel da lingua portugueza. Eis o que diz o auctor do poema do Cid, escripto no meiado do seculo decimo-segundo, falando no brial. (Sanches Pocs. Cast. ant. al siglo 15.° t. 1.° pag. 347.)


     Vistió camisu de ranzal tan blanca como el sol
     . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
     . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
     Sobre ella un brial primo de ciclaton
     . . . . . . . . . . . . . .
     Sobre esto una piel bermeia . . . . . . .
     . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
     . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
     . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
     De suso cubrió un manto que es de grant valor.