Página:Lendas e Narrativas - Tomo I.djvu/193

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até então era uma cólera cega, repentina, insensata, que o ameaçava: agora, porém, no modo e na expressão de D. Fernando vira claramente que era um amor de irmão que expirára.

Com a cabeça pendida em cima do hombro de Gil Vasques de Resende saiu do aposento.

Era talvez o velho o unico amigo que lhe restava no mundo.

D. Leonor levou ambas as mãos ao rosto, e via-se-lhe arquejar o collo formoso por mal contido suspiro.

“Coração compadecido e generoso!—­pensou lá comsigo o alferes-mór, que havia pouco a tractára pela primeira vez.

“Hora maldicta e negra, em que perdi metade de minha tão esperada vingança!—­pensava Leonor Telles, e o chôro rebentou-lhe com violencia.

“Não te afllijas, Leonor:—­disse D. Fernando, apertando-a ao peito.—­Que nunca mais eu o veja, e viva, se podér, em paz!”

Mas as lagrymas correram ainda com mais abundancia e amargura.

O resto daquelle dia foi triste: triste o banquete e o sarau. A atmosphera em que respirava a nova rainha tinha o que quer que era pesado e mortal, que resfriava todos os corações.