os dous havia concebido se estendêra a todos os que cria serem-lhes affeiçoados.
Apenas, portanto, se divulgou a noticia da intentada traição, o povo furioso correu ás moradas daquelles, que, como fica dicto, lhe eram mais suspeitos. Seguiu-se uma festa de cannibaes, festa de vulgacho em qualquer tempo e logar que elle reine. Aquelles que não poderam provar de modo innegavel a sua innocencia, foram mettidos aos mais crueis tormentos, onde nenhum se confessou culpado. Um desgraçado, contra o qual eram mais vehementes as desconfianças, foi arrastado pelas ruas e feito depois em pedaços: “outro—diz o chronísta [1] —tomarom e pozerom-no na fumda d’huum engenho, que estava armado ante a porta da see; e quando desfechou lançono em cima dessa egreja antre duas torres dos sinos que hi ha, e quando cahio acharomno vivo; e tomaromno outra vez e pozeromno na fumda do engenho, e deitouho contra o mar, omde elles desejavom, e assi acabou sua vida.”
Era por isso que D. Leonor olhára para o engenho, e se ríra. O próprio povo tinha pagado uma parte das arrhas do seu casamento.
A noite descêra entretanto. A cavalgada parou
- ↑ Fernão Lopes, Chr. de D. Fern. cap. 75.