Página:Lendas e Narrativas - Tomo I.djvu/218

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situação em que se achava naquelle terrivel momento.

Mas um beijo ardente, dado nessa mão que tinha estendida, e lagrymas ainda mais ardentes que a regavam foram como faisca electrica revocando-o á razão e á realidade da vida.

A commoçào indizivel e mysteriosa que sentira fez-lhe abaixar os olhos: a rainha estava a seus pés: era ella quem lhe cobria a mão de beijos e lh’a regava de lagrymas.

D. Fernando affastou-a suavemente de si: ella alevantou o rosto celeste orvalhado de pranto; era de feito a imagem de uma das martyres que elle via no seu imaginar da infância. D. Leonor ergueu as mãos supplicantes com um gesto de profunda angustia: então era mais formosa que ellas.

“Ah!”—­murmurou elrei:—­“porque é o teu coração implacavel, ou porque te amei eu tanto?!”

“Desgraçada de mim!—­acudiu D. Leonor entre soluços.—­O teu amor era como o iris do céu: era a minha paz, a minha alegria, a minha esperança; mas desvaneceu-se e passou: a vida de Leonor Telles desvanecer-se-ha e passará com elle!”

“É porque sabes que esse amor não póde perecer; que esse amor como um fado escripto