Página:Lendas e Narrativas - Tomo I.djvu/220

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de morte! Possas tu depois perdoar-me, e proferir sobre a campa da pobre Leonor uma expressão de piedade!”

As lagrymas e os soluços parecia não a deixarem proseguir. Reclinou a cabeça sobre os joelhos d’elrei, apertando-lhe a mão entre as suas com um movimento convulso.

Formosa, querida, humilhada a seus pés, como resistiria o pobre monarcha? Unindo a face áquella fronte divina, só lhe disse:—­oh Leonor, Leonor!—­e as suas lagrymas misturavam-se com as della.

Durante esta lucta da dor e da hypocrisia, em que, como sempre acontece, a ultima triumphava, o conde de Barcellos e D. Gonçalo Telles tinham-se encostado á janella fatal que dava para o rio, e que tambem dominava grande porção do arrabalde occidental da cidade. O espectaculo da noite era de melancholica magnificencia.

A lua caminhava nos céus limpos do nuvens, e pela face da terra nem suspirava uma aragem. A claridade do luar refrangia-se nas aguas, mas esmorecia batendo na povoação, na qual não achava, além dos antigos muros, uma parede branqueada, uma pedra alva onde espelhar-se, ou um sussurro do lesta acorde com as suas harmonias. O incendio e o ferro tinham