Página:Lendas e Narrativas - Tomo I.djvu/281

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recincto, ficou immovel, com os braços estendidos para o tecto, as palmas das mãos voltadas para cima, e a cabeça encolhida entre os bombros, como quem cheio de horror via sobre si desabar aquellas altissimas e macissas arcarias.

“Mestre Ouguet!—­exclamou elrei espantado.

“Mestre Ouguet!—­gritou Fr. Lourenço, com todos os signaes de assombro.

“Mestre Ouguet!—­repetiram os cavalleiros e fidalgos, para tambem dizerem alguma cousa.

“Quem fala aqui no meu nome?—­rosnou David Ouguet, com uma voz comprimida e sepulchral.—­Malvados! Querem assassinar-me?! Querem arrojar sobre mim esse montão de pedras, como se eu fôra um cão judeu, que merecesse ser apedrejado?! Oh meu Deus, salvae a minha alma!”—­E depois de um breve silencio, em que pareceu tomar fôlego:—­ “Não vos chegueis ahi!—­bradou elle.—­Não vedes essas fendas profundas como o caminho do inferno? São escuras: mas atravez dellas lá enxergo eu o luar! Vós não, porque vossos olhos estão cegos ... porque o vosso bom nome não se escoa por lá!... Cégos? Não vós!... mas elle!... Elle é que se ri e folga em