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Página:Lendas e Narrativas - Tomo I.djvu/35

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exterior da sua torre albarran, a maior de todas as que o cercam, a que atalaia a campanha. Aquella luz, no ponto mais elevado do grande e escuro vulto da torre, é como um olho de demonio, que contempla colerico a paz profunda do imperio, e que espera ancioso o dia em que renasçam as luctas e as devastações de que por mais de dois seculos fôra theatro o solo ensanguentado de Hespanha.

Alguem véla, talvez, no paço de Merwan. No de Azzahrat, posto que nenhuma luz bruxulêe nos centenares de varandas, de miradouros, de porticos, de balcões, que lhe arrendam o immenso circuito, alguem véla por certo.

A sala denominada do Kalifa, a mais espaçosa entre tantos aposentos quantos encerra aquelle rei dos edificios, devêra a estas horas mortas estar deserta, e não o está. Dois lampadarios de muitos lumes pendem dos artesões primorosamente lavrados, que, cruzando-se em angulos rectos, servem de moldura ao almofadado de azul e ouro, que reveste as paredes e o tecto. A agua de fonte perenne murmura cahindo n’um tanque de marmore construido no centro do aposento, e no topo da sala ergue-se o throno de Abdu-r-rahman, alcatifado dos mais ricos tapetes do paiz de Fars. Abdu-r-rahman está ahi sósinho. O kalifa passeia de