e procurador por elles, como lhe chama Fernão Lopes, affeiou em termos violentos as intenções d’elrei, liberalisando a D. Leonor os titulos de má mulher e feiticeira, e asseverando que o povo nunca havia de consentir em seu casamento adultero. A arenga rude e vehemente do alfaiate orador, acompanhada e victoriada de gritas insolentes e ameaçadoras do tropel que o seguia, moveu elrei a responder com agradecimentos ás injurias, e a affirmar que nem D. Leonor era sua mulher, nem o seria nunca, promettendo ir na manhan seguinte aclarar com elles este negocio no mosteiro de S. Domingos, para onde os emprasava. Com taes promessas pouco a pouco se aquietou o motim, e ao cahir da noite o terreiro d’apar S. Martinho estava em completo silencio. Como se, na solidão, elrei quizesse consultar comsigo o que havia de dizer ao seu bom e fiel povo de Lisboa, as vidraças córadas das esguias janellas dos paços reaes, que vertiam quasi todas as noites o ruido e o esplendor dos saráus, cerradas nesta hora e caladas como sepulchro, contrastavam com o reluzir dos fachos, com o estrepito das ruas, com o rir das mulheres perdidas e dos homens embriagados, com o perpassar contínuo dos magotes e pinhas de gente que se encontravam, uniam,
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